Muitos que defenderam as manifestações
ocorridas em junho pelo país afora, que segundo alguns chegaram a dois milhões,
trouxeram à pauta temas que atingem diretamente as massas que se localizam nos
centros urbanos. Um dos temas recorrente foi o protesto contra a corrupção, o
que por si só é uma coisa estranha, na medida em que não há, pelo menos que eu conheça
nenhuma instituição ou indivíduo que defenda a corrupção. Mas a gritaria contra
a corrupção significou um protesto veemente de certas camadas sobre o sistema
político que elas mesmas alimentam.
Pelé, o Rei do Futebol e príncipe das
declarações inúteis, já tinha dito, na década de 70, em meio à Ditadura, que “o
povo não sabe votar”, frase essa muito digerida pelas elites que, desde a
redemocratização, transformaram o processo eleitoral e legislativo, numa grande
orgia publicitária em que o eleitor, seja ele pobre ou rico, informado ou não,
vota em pessoas desqualificadas, oportunistas ou pura e simplesmente em
ladrões.
É tradição de essas elites imputarem
ao povo “burro” a deformação do sistema de representação, o que é um besteirol,
na medida em que conheço muita gente de classe média, muito bem informada por
sinal, que votou em “amigos”, por que alguém pediu e por outras dezenas de
justificativas desavergonhadas. O sistema deformado leva a todos a votar em
pessoas e não em ideias. E ai vale tudo.
Saúde, educação, transporte público e
segurança pública não são tratados em assembleias de botequins, nem em reuniões
de condomínios. Os recursos aplicados nessas áreas são DECIDIDOS nas instâncias
de representação, ou seja, o destino do dinheiro é uma decisão política feita
nas câmaras de vereadores, assembleias legislativas, Câmara Federal e Senado da
República. Não adianta ficar cacarejando e nem grunhindo ou rangendo os dentes
contra os “políticos”, pois é o sistema político que, numa democracia, decide
as coisas. Ponto final.
É no sistema político que está a “trava”
do desenvolvimento das relações econômicas, sociais e políticas e “destravar”
isso seria um primeiro passo para colocar a sociedade, como um todo, mais em
sintonia com a representação popular. E é bom lembrar o silêncio envergonhado
dos presidentes da Câmara e do Senado durante as manifestações. Passado o
furacão, todo mundo passou a ser a favor da Reforma Política, mesmo que durante
quase dez anos tenham travado ela.
Aécio, Henrique, Agripino e Freire : unidos contra o Plebiscito |
O DEM, o PSDB e o PPS a tríade
oposicionista que range os dentes toda vez que o Planalto fala ou age, foi
rápido em querer se tornar “porta-voz das ruas” e, de olho em 2014, fustigar o
governo exigindo recursos que eles mesmos retiraram quando estavam no poder,
basta lembrar a penúria das universidades públicas federais no período em
estiverem governando o país, para entendermos a hipocrisia desse discurso. Mas
faz parte da luta política e só é enganado quem quer.
Pois bem, o eixo central de uma
Reforma Política seria a consulta popular via PLEBISCITO para que a população
fosse chamada a opinar sobre as cinco propostas do Governo, que iam desde o
tipo de sistema eleitoral até o fim do famigerado voto secreto no Congresso,
uma afronta à representação popular e uma abertura à corrupção. Tudo muito
bonitinho, mas tinha uma pedra no meio do caminho, chamada PDMB.
Todos os líderes dos partidos que
apoiam o governo foram numa reunião e apoiaram a proposta do Plebiscito, à exceção
do conservador Partido Popular (PP), que desde o início defendia o Referendo.
Ocorre que 24 horas depois, a magia da politica fez com que o PMDB, que comanda
a Câmara e o Senado, voltasse atrás e, lançando mão do “senhor tempo”,
iniciasse o processo de assassinato da proposta, nas barbas do PT e com a ajuda
nada companheira do PSB, que tá de olho nas eleições de 2014.
Contando com a ajuda do PIG, especialmente
da Rede Globo, aquela que deve mais de R$ 1 bilhão só em direitos autorais e
cujo processo de sonegação fiscal sumiu do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
começaram a fustigar o Plebiscito. Somaram-se a eles a tríade oposicionista
(DEM-PSDB-PPS), o Exército do Final dos Tempos (PSTU), que não tem uma mosca
eleita no Parlamento, mas é especialista em se somar às vozes da oposição,
mesmo com seu discurso pseudo-revolucionário e um bem articulado exército de
juristas e constitucionalistas, cujo tempo nas emissoras de televisão de
repente aumentou desmesuradamente.
Ontem (9), finalmente, o presidente da
Câmara, Henrique Alves (PMDB), reuniu o chamado “colégio de líderes” da Câmara,
e esta decretou a morte do Plebiscito. Ficaram isolados na defesa desse o PT, o
PCdoB e o PDT. O motivo foi a “doença do tempo”, muito oportuna para quem o
tempo não é o senhor da razão.
Amanhã (11), no Dia Nacional de Lutas,
que ocorrerá em todo o país, ao lado das bandeiras das organizações sociais,
sindicais e políticas, teremos que levantar a bandeira da defesa do Plebiscito,
mas também seria uma boa hora para que os “acordados” não virem sonâmbulos e os
“apartidários” não se tornem mofinos e deixem que as elites, mais uma vez,
conduza a sociedade para o cercado que a mantém.
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